Apr 28, 2010

Estrado


Era uma festa, pessoas voando e uma cabeça de cavalo de pelúcia falante, todos numa sala triangular rodando em sentido anti-horário. Neve derretida em pratos de cristal. A água forma palavras polissílabas como contabilidade, fragmentação e polissílaba. A música infantil toca de trás pra frente revelando mensagens de sexo. As pessoas voando se reúnem em um círculo e gritam juntas: "toalhas de ossos" e quebram copos de plástico. Sem saber, a cabeça de cavalo de pelúcia se transforma em uma TV colorida que passa desenhos animados de crianças negras correndo na neve. A vela acesa apaga e acende e apaga. A sala pára; todos caem imóveis e a TV desliga. A neve evapora em fumaça colorida, eu amarro meu tênis sem os cadarços e lembro que não tranquei a porta do banheiro, mas eu não estou lá. O sofá da sala está vermelho e molhado, há pessoas sentadas nele, não vejo seus rostos, eles estão cinquenta centímetros atrasados. A maçaneta gira, é o dono da papelaria descalço e fumando um charuto apagado, suas mãos estão vazias. Atrás de mim, sentado na mesa, estou eu. Sento-me ao meu lado, sou mais alto do que eu, e vejo o último andar. A maçaneta gira novamente, eu não sei quem é....