Aprofundei-me.
Já ia encontrar sentido, mas meus olhos lacrimejavam sem dor, paralelos e reais, estáticos e saborosos, causando pseudo-sensações de completude... Após estas palavras o homem de cabelos e barbas longas levantou de seu leito de lençóis amarrotados com manchas de sexo e cerveja da noite anterior. Levantou-se, caminhando vagarosamente, desviando de objetos no chão de madeira fria. Seus pés descalços se arrastavam fazendo ruídos estranhos. O espelho não refletia apenas seu rosto, dentro de seus olhos podia-se ver o invisível, como se sua mente divagasse pelo conhecido, indo além do incompreensível.
- Preciso de um cigarro – balbuciou.
Em outro lugar, um senhor velho e grisalho está sentado em um banco úmido e enferrujado, numa típica manhã chuvosa da Inglaterra. Seu sobretudo áspero e rasgado aquece seu corpo, exceto pelas mãos. Ele olha fixamente para o primeiro andar de um prédio à sua frente. Na janela de vidros trincados, uma silhueta se mantém imóvel, atônita por algum motivo. O prédio, com uma pintura velha e descascada, misturando cores ocres e pastéis, não se destaca naquele cenário pálido, mas o velho o fita, concentrado e diz:
- Através destas recriaremos/recriamos o irreal.
Talvez ao mesmo tempo, num local a esmo, um jovem rabisca, com uma pedra verde e fosca, um muro da cor de cinzas de cigarro. Seus braços lentos produzem imagens, esboços complexos, teorias simples. Interiormente ele vê coisas incríveis. Um gato salta para sempre entre um muro e outro, seus pelos eriçados pelo perigo prolongam a sensação eternamente. Abaixo, os olhos de uma criança congelam este momento do gato, transferindo seus medos a ele. A neve tem bocas que sopram sussurros frígidos, seus lábios de estalactites perfuram as moléculas do ar, tirando-lhes algo que nunca foi delas. O gato está parado e não está, a neve cai obre seu focinho e parece incomodar e apesar de tudo uma metrópole acelera a sua volta. Os olhos da criança a isso tudo vê, mas estão fechados. O homem de cabelos longos não mais olha seu reflexo no espelho, ele vê o que está a sua volta, invertido através do espelho e pensa naqueles objetos ali parados, tão acessíveis nas suas costas e completamente inacessíveis à sua frente. O que diferencia o real do irreal. E ele mesmo? O que faz é refletido no espelho ou se manifesta inversamente dentro dele? Tudo está ali e não está. O que pode ver e não tocar faz parte do mesmo cenário que se pode ver e tocar. O homem está à horas parado naquela posição. O velho se levanta do banco, agora molhado e pesado e vê sob a neblina um pequeno vulto que corre, mas quando desvia sua atenção da janela do primeiro andar, a janela não está mais ali, ele não está mais ali. Ele se põe a caminhar em nenhum sentido, tudo que vê é uma sombra enevoada. O jovem rabisca o muro com os dedos, a pedra já e desfez em imagens. O jovem se questiona se aquela pedra sempre foi aquelas imagens. O mesmo objeto, a mesma constituição deslocada em espaço, tempo e textura. A mudança já existia antes do início? Os desenhos e rabiscas estavam dentro da pedra? Ele pára e corre através da névoa.
- Espelho, espelho meu... existe alguém mais bêbado do que eu?
O homem de barba e cabelos longos diz isso e sorri, calçando suas botas e vestindo um velho sobretudo rasgado. Sai pela porta que range com frio. Chegando à calçada, ele esquece a que veio, caminha até um banco à frente de seu prédio e senta-se por cinquenta anos, suas pernas doem por correr tanto através da névoa, ele olha uma silhueta na janela do primeiro andar, na sua mão uma pedra verde e fosca se desfaz, seus olhos lacrimejam
Já ia encontrar sentido, mas meus olhos lacrimejavam sem dor, paralelos e reais, estáticos e saborosos, causando pseudo-sensações de completude... Após estas palavras o homem de cabelos e barbas longas levantou de seu leito de lençóis amarrotados com manchas de sexo e cerveja da noite anterior. Levantou-se, caminhando vagarosamente, desviando de objetos no chão de madeira fria. Seus pés descalços se arrastavam fazendo ruídos estranhos. O espelho não refletia apenas seu rosto, dentro de seus olhos podia-se ver o invisível, como se sua mente divagasse pelo conhecido, indo além do incompreensível.
- Preciso de um cigarro – balbuciou.
Em outro lugar, um senhor velho e grisalho está sentado em um banco úmido e enferrujado, numa típica manhã chuvosa da Inglaterra. Seu sobretudo áspero e rasgado aquece seu corpo, exceto pelas mãos. Ele olha fixamente para o primeiro andar de um prédio à sua frente. Na janela de vidros trincados, uma silhueta se mantém imóvel, atônita por algum motivo. O prédio, com uma pintura velha e descascada, misturando cores ocres e pastéis, não se destaca naquele cenário pálido, mas o velho o fita, concentrado e diz:
- Através destas recriaremos/recriamos o irreal.
Talvez ao mesmo tempo, num local a esmo, um jovem rabisca, com uma pedra verde e fosca, um muro da cor de cinzas de cigarro. Seus braços lentos produzem imagens, esboços complexos, teorias simples. Interiormente ele vê coisas incríveis. Um gato salta para sempre entre um muro e outro, seus pelos eriçados pelo perigo prolongam a sensação eternamente. Abaixo, os olhos de uma criança congelam este momento do gato, transferindo seus medos a ele. A neve tem bocas que sopram sussurros frígidos, seus lábios de estalactites perfuram as moléculas do ar, tirando-lhes algo que nunca foi delas. O gato está parado e não está, a neve cai obre seu focinho e parece incomodar e apesar de tudo uma metrópole acelera a sua volta. Os olhos da criança a isso tudo vê, mas estão fechados. O homem de cabelos longos não mais olha seu reflexo no espelho, ele vê o que está a sua volta, invertido através do espelho e pensa naqueles objetos ali parados, tão acessíveis nas suas costas e completamente inacessíveis à sua frente. O que diferencia o real do irreal. E ele mesmo? O que faz é refletido no espelho ou se manifesta inversamente dentro dele? Tudo está ali e não está. O que pode ver e não tocar faz parte do mesmo cenário que se pode ver e tocar. O homem está à horas parado naquela posição. O velho se levanta do banco, agora molhado e pesado e vê sob a neblina um pequeno vulto que corre, mas quando desvia sua atenção da janela do primeiro andar, a janela não está mais ali, ele não está mais ali. Ele se põe a caminhar em nenhum sentido, tudo que vê é uma sombra enevoada. O jovem rabisca o muro com os dedos, a pedra já e desfez em imagens. O jovem se questiona se aquela pedra sempre foi aquelas imagens. O mesmo objeto, a mesma constituição deslocada em espaço, tempo e textura. A mudança já existia antes do início? Os desenhos e rabiscas estavam dentro da pedra? Ele pára e corre através da névoa.
- Espelho, espelho meu... existe alguém mais bêbado do que eu?
O homem de barba e cabelos longos diz isso e sorri, calçando suas botas e vestindo um velho sobretudo rasgado. Sai pela porta que range com frio. Chegando à calçada, ele esquece a que veio, caminha até um banco à frente de seu prédio e senta-se por cinquenta anos, suas pernas doem por correr tanto através da névoa, ele olha uma silhueta na janela do primeiro andar, na sua mão uma pedra verde e fosca se desfaz, seus olhos lacrimejam
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Buuuuu